O que for meu, volta.
Hoje eu acordei e senti necessidade de você, tem sido assim todos os dias por muito tempo. E de repente eu era sua, eu te encontrei na rua, você segurou meu braço e disse que precisávamos conversar. Eu sempre tive medo disso, de precisar conversar, de precisar encarar você, de me sentir vulnerável sob seu olhar, sentia medo de que o meu sentimento por você me destruísse. Era sábado, tinha uma festa na praça, era sempre uma loucura, muita gente, cheiro de juventude misturado com vodka e batom e era óbvio que você estaria lá, a cidade é pequena e eu confesso que sempre fiz acontecer, participei de todos os eventos durante o ano todo só pra ver você, era coisa de psicopata, assistia sua vida como num filme.
Nós entramos numa rua mais calma, fomos para um lado da praça que estava em reformava, a gente caminhou em silencio e dava pra ouvir a música e as conversas se distanciando. Paramos perto de um carro, era o seu carro, até parecia combinado. Não dava pra ver ninguém, a praça estava toda interditada com madeirite, eu subi na guia, você encostou no carro, eu te olhava por entre uma mecha ondulada do meu cabelo que eu passei horas ajeitando. Você subiu o olhar do celular, passou pela minha boca e encontrou os meus olhos e então disse, "Eu sinto sua falta". Céus, era tudo o que eu precisava ouvir, mas você tinha errado demais pra querer voltar atrás. Eu ia te esquecer, era só você ir e esquecer o caminho, você tinha sido uma pessoa terrível, egoísta e que eu sempre me questionava se você tinha coração. Mas quando você começou a namorar eu sorri, porque achei que enfim, você não era um completo insensível, parabéns, ame alguém mesmo que não for eu, mas ame.
Eu dei dois passos para trás, não sei dizer se foi espanto, mas algo fez eu me afastar e me chocar levemente contra a madeira. Em seguida você chegou bem perto, minha respiração estava trêmula, você segurou minha mão bem firme pra eu não me afastar mais, eu só pensava em tudo o que estava guardado pra te dizer, mas eu não podia estragar aquele momento e mesmo assim, segurar a minha mão foi tão conveniente que quando nos tocamos tudo por dentro se acendeu como uma árvore de natal e no fundo tinha uma música marcante que se repetia "I know how I want to take me home". Tão puro foi aquele momento que eu rezava baixinho para que nossos lábios fizessem o mesmo que nossas mãos, então você me beijou e eu agradeci aos anjos enquanto colhia o fruto de minhas preces.